plural

PLURAL: os textos de Neila Baldi e Noemy Bastos Aramburú

Recordes
Neila Baldi 
Professora universitária

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Há 30 anos tomo café sem açúcar. E não peguei Covid. Há 25 anos, não como carne vermelha. E não peguei o coronavírus. Há 12 anos só como grãos integrais. E não desenvolvi covid. Há sete anos aprendi a gostar de coentro. E não tive coronavírus. Há cinco anos faço reposição de vitamina B-12. E não tive covid. Há uns 10 meses tomo complexo vitamínico para aumentar a imunidade. E não fui infectada pelo coronavírus. Há quatro meses como verduras, frutas e legumes da cesta de orgânicos entregue na minha casa. E não peguei covid.

A lista acima tem o mesmo efeito daqueles e daquelas que tomam remédio pra piolho ou vermes, a cada 15 dias, e não se infectaram. Ou seja, não há comprovação científica.

IGNORÂNCIA

Mas, por outro lado, há um ano uso máscaras todos os dias. Coloco face shield quando preciso sair de casa e carrego um frasco de álcool 70% no bolso. Há um ano, desinfeto tudo o que chega da rua e estou em home office. Isso, sim, tem comprovação científica: máscara e distanciamento social.

Como disse uma amiga, sendo irônica com o síndico do prédio onde reside, que usa um dos remédios do 'kit': "Eu tomo café sem açúcar todo dia de manhã. E tem dado um ótimo resultado, porque ninguém na minha casa foi infectado até agora." Batemos recordes de ignorância e/ou mau-caratismo neste país. É sério que a seita do mi(n)to acredita que o Brasil achou a fórmula para não se infectar? Então por que os outros países não fazem o mesmo? A seita já parou pra pensar nisso? Se tivéssemos a fórmula, não seríamos, hoje, o epicentro mundial da Covid-19.

DEU NO NY TIMES

Por causa da ignorância de algumas pessoas e do mau-caratismo de outras, temos batido recordes em cima de recordes de infecção e mortes por Covid-19. O descontrole da transmissão do vírus no país fez com que jornais como o The Economist e o New York Times publicassem matérias mostrando, inclusive, os efeitos das propagandas enganosas para a disseminação da doença. Um dos entrevistados falou que acredita naquele em quem votou. E perdeu um parente por causa disso...

Enquanto isso, na semana de seu aniversário, a capital gaúcha atingiu a marca de 23,7 óbitos por 100 mil habitantes. Muito acima da média nacional e próximo ao ápice de Manaus, quando faltou oxigênio e o índice chegou a 25,2. Estamos há um mês com hospitais lotados. UTIs lotadas aumentam a mortalidade. E há risco de desabastecimento de medicamentos.

Eu sigo me protegendo. Mas quantas pessoas não têm máscara de qualidade e não conseguem fazer distanciamento social? Quantas mais vão ter que morrer para que medidas efetivas sejam tomadas?

O poder da indignação

Noemy Bastos Aramburú
Advogada, administradora judicial, palestrante e doutora

style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">Quem já não ouviu a seguinte frase: "a Joaninha, quando crescer, vai ser advogada, pois ela está sempre questionando e brigando por tudo"? Fico feliz que as joaninhas existam, aliás, sou uma delas.

Esta semana, circulou em vários jornais, a notícia do juiz do Piauí, que proferiu decisão concedendo liberdade provisória ao próprio filho que havia sido preso por ter causado um acidente com lesões ao bater numa moto, embriagado e tentado fugir do local, sem socorrer a vítima. Ao ser interceptado pela Polícia Federal, foi realizado o teste de etilômetro, o qual diagnosticou o teor de 1,6mg/l de álcool por litro de ar, sendo que o máximo permitido é 0,04 mg/L.

O pai-juiz determinou a soltura do infrator, fundamentando na decisão que o autuado é seu filho, mas agir como a lei determina. Isto é dar-se por suspeito e passar o caso para outro colega, levaria tempo, então ele concedeu a liberdade provisória. Não satisfeito com todos estes atropelos da lei, o pai-juiz concedeu a liberdade provisória dispensado o filho-autuado, sem pagar fiança, alegando que ele não dispõe de renda própria. Como não ficar indignada?

O magistrado reconhece seu impedimento legal de julgar o próprio filho, no entanto, argumenta que o juiz substituto estava de férias e, não havia previsão legal para designar outro magistrado para o caso, somente o Tribunal de Justiça do Piauí poderia resolver, e que o Tribunal demoraria para decidir. Até o jeitinho brasileiro o magistrado aplicou, para justificar seu comportamento.

Quando entramos na pandemia, um dos pensamentos que visitou várias mentes, foi o de que as pessoas sairiam melhores, mais humanas, entretanto atitudes como essa, mostram o contrário. O ser humano se revelando maldosamente para acobertar sua prole. Infelizmente, o poder de indignação não é apenas das joaninhas, mas de qualquer um dos oito aos oitenta anos, até porque nesta atitude o pai-juiz descumpriu o que determina o princípio da imparcialidade, quebrou a ética profissional ao alegar a morosidade do Tribunal de Justiça para dirimir a questão do seu filho, ora, não seria o mesmo tempo para qualquer cidadão comum!?

A referida decisão, ainda pensou no bolso do pai- -juiz, pois, quando descumpriu o que determina a lei ao conceder liberdade provisória sem pagamento de fiança, alegou que o indiciado não dispõe de renda própria, quando os julgamentos costumam ser aplicados pelo padrão de vida do indiciado, aliás, com 20 (vinte) anos dirigia Nissan Kisks. A dispensa da fiança para as joaninhas foi a gota d'água, pois, o pai-juiz não deveria ter "pago" a fiança e descontado o referido valor das gasolinas que banca para seu filho dirigir!

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